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sábado, 6 de setembro de 2008


Você vai me abandonar - repetiu sem som, a boca movendo-se muito perto do fone - e eu nada posso fazer para impedir.Você é meu único laço,cordão umbilical,ponte entre o aqui de dentro e o lá de fora.Te vejo perdendo-se todos os dias entre essas coisas vivas onde não estou.Tenho medo de,dia após dia,cada vez mais não estar no que você vê.E tanto tempo terá passado,depois,que tudo se tornará cotidiano e a minha ausência não terá nenhuma importância. Serei apenas memória,alívio, enquanto agora sou uma planta carnívora exigindo a cada dia uma gota de sangue para manter-se viva.Você rasga devagar seu pulso com as unhas para que eu possa beber.Mas um dia será demasiado esforço,excessiva dor,e você esquecerá como se esquece um compromisso sem muita importância. Uma fruta mordida apodrecendo no prato.

(Caio Fernando Abreu-Os Dragões Não Conhecem O Paraíso, A Outra Voz)

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